Primeiro a gente vive. Pouco primeiro. Depois a gente comenta a vida. Muito depois.







domingo, 4 de dezembro de 2011

Um menino


Eu sou.

O que eu sou
Do menino
Que me doma
Esta claro como
A chuva no
Telhado sujo.

Eu sou do menino
A forma mental
Paradoxo extremo
Da velhice.
Sou mortal.

O menino velho
Novo
Novamente
Tentando
Ser velho
Serve a coisa
Alguma
Tentando ser
Alguma coisa.

O lado velho
Morre
O lado menino
Mata.

O grito riso brinco
Sai
Do menino
O contido
Está no velho.

A linha torta
Velha vem sem rima
Dos dedos do menino.
A crítica vendo velho.
O velho em frente a critica
Estica-se e curva
E se adapta.
O menino
Rapta-se e
Sente a vida.
Os olhos atentos
Repara o velho
E cutuca quem brinca
E não repara.
A vergonha na cara
Que o menino não tem
Por extinto.

Quando eu era menino
Falava como tal
Agora que estou menino
Quero ser mais.

Mais o quê?

domingo, 20 de novembro de 2011

Absolutismo


Aparentemente
humana
Sente ante
o conto e a sonsa
aparência mente
Porque o incomodo
Intencionou
o aparentemente.
A chave que abre a chave
No qual se achava
Desconsiderada.
E a platéia ria
Do que não entendia
Vangloriavam-se.
Tudo isso sobre o véu
Aparência,
Dominando
Rainha do palco da voz dos gestos
Tudo, uma coisa
Um tornado
Misturando o reino
Que mente.
Mas ainda
Há resistência.
Aquela ignorância
Velha ao novo,
É só aparência.

O aparentemente


A chave-porta chave
A metalinguagem erro
Gramatical
Luz escura
Vento no litoral
Escolha obtusa
Sol opaco
Mascara musa
Astronauta sem nave
Palavra nua
Despida
Que trabalho me terá
De interpretá-la?
Que labuta poderia
Ser Encarcerada
Se o segredo
Fosse dado de graça.
(As palavras odeiam, mas...)
Não teria graça.
O preço da porta-bandeira
É, aparentemente,
A escolha perfeita.
Agora digas, se já sabes a tua
Realidade,
A tua verdade,
Apesar do receio
Jogue essa chave.
Isso é só
Aparência.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Nós

Eu vamos à luta
nós vou a labuta
me espera-te e
te apresso
ao encontro da luta
em que eles fomos.

O apreço me chama-te
de nós.
A pagar pelo sangue
que corre
ao alto preço.

Eu
querem me fazer de tolo.
Nada nestes tempos alcançam
o alto do meu devaneio
novo.
E aquilo que é novo
,caro eu,
encarcera e me estremece
o teu seio.

Tudo riso
o choro
mentira
riso até
eu voltarmos
verdade.

Cárcere poético

Mijaram na flor.
Por que não?
Defecaram na flor.
Por que não?

Comeram a flor.
Com que mão?
Misturaram-na
com espinhos.
Com que dom?

Silenciaram
seu cheiro.
com que som?

Soa ignorância
das mãos dos
imitadores
fajutos.
Doutrinadores
da liberdade
encarcerada em
velhice.

A flor perdeu
sua cor
e agora está
rimando em poemas
falidos.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

nonada


Se
Não
é mundo
não
é fim do mundo.
Não
É coisa velha
Não
É mais
Não
Mas
Tudo sim
Não
É quase certo
Não
É partida
Não
É aquilo que
Não
É aquilo.
É isto:

Sou


Eu sou
O que sôo
sou
O que suo
Sou
O que dôo
Sôo
O que fôdo
Dôo
O que sou
E o que sôo
Sou o que beijo.
O Que mastigo.
[Aquela carne
Ensangüentada
Da vida.]
Sou o que
Estou.
Não rimo
O suor da vida
Com o frescor
Daquilo que
Nem desejo.

O livro


Abro o livro
Leio
Releio
Ele é ainda maior que o verso e a métrica desproporcional.
Mas nunca será o mesmo.
Nem Demian, nem Sinclair,
Terão o mesmo cheiro de passarinho morto.
Apareceu na bolsa
O odor
O cheiro está impregnado
Na minha memória de devaneio.
A bolsa foi lavada
Joice já não mata passarinhos.
[Mata dragões]
Mas o livro
Ainda maltrata.
E o cheiro
vaga

A ditadura da alienação


O povo quando grita
Grita?
O chato quando fala
Fala?
O digno quando
Quando?
Aquilo que sai e
Emite o vestido novo
Novo?
A mudança sempre
Come
O começo
Começo?

A pergunta quando
Sai clicherizada
Nem esculpida
Nem censurada
Meio rebelde
Às vezes escapa
Às vezes domada
É ditada por dedos
Que gritam:
É a ditadura da
Alienação.
A pergunta
Não rima.
Nem razão.
Não combina.
Por que viver?

Porque
às vezes
dá choque
morrer.

O jogo e a Barata


GOL. Eles correram de volta. A tática. O jogo. A vaga não decidida deixava emocionante o empate entre os gigantes em terra de alheio. Alheia era Barata. Em pleno dois a dois, Ela atravessou a linha de escanteio. E o jogo jogado com bola rolando no estádio. Grandes fortes magros pesados leves feios bonitos. Pés. Eles tinham pés. Bastasse uma sensação de morte, todos se refugiariam no próprio medo. Ela não. O instinto era a travessia. Não era passagem de fases, mudanças de personalidade, opiniões, nem sequer ideologia. Era apenas travessia do campo com bola rolando e pés espalmados no (cai) chão da Barata. Barata vida, desprezo. Ali, esperando o estremecer do sistema nervoso. Avança. Os pés passam correm chocam. UH! Está no meio do alvoroço e malandra, espera. O garoto, que vê a barata Barata, grita: “-TOCA A BOLA!”. A dama, que teme a coisa, suspira: “-ai!”. Outros vêem, mas outros são outras visões e outras histórias. Treme. Continua. Os pés vêm. Continua, firme. O pé desvia. Erra. Toca. O chute a morte. O garoto vibra ”-GOL”. A moça lamenta-se. A Barata, que nem sorri nem chora, nem faz nem desfaz, nem vibra nem lamenta, nem ganha nem perde, nem classe nem creme, nem chupa nem come, é liberta desse mundo de competições. Choro. A velha grita: “NINGUÉM VIU A BARATA?”. Entendo a indignação da sábia. Barata também é gente. Ou não?

sábado, 3 de setembro de 2011

Rima podre


Só tem rima
quando a fome
reina
quando a mão
nos deixa
quando o palco
fecha
quando o barco
enche
quando o saco
estoura.

Só tem rima
quando o chato
beija
quanto mal esteja
manta impregnada
rima feia
mal propagada.
Aquilo que é humano
sem graça.
Aquela rima
frouxa
folgada
rima quando a vida
está solta
suja
desfigurada
sem aquele poste,
aquela escada.

E a mão ousa
levantar-se.
e a mão ousa
encher-se
de sangue.
E ela bate
no peito
do corpo
podre e soa
o enxofre
escarrando,
tentando amar:
"então o poema não precisa rimar."

O destino dos corvos


Carcará era ficha. Este comia o que nascia do buraco negro. Humano (possivelmente), ria de sua desgraça. A poesia que ousava sair era massacrada pelas mãos sujas daquele que sempre foi atingido. O grito do acaso, ou da sorte, ou dele mesmo, soava longe. A peregrinação dentro das entranhas universais, sinapses e vias curvas sangrentas era, provavelmente, cansativa e nostálgica. Gostava era de ficar sentado naquele banco de rio, olhando o pôr-do-sol, ou aurora, ou nada. E nem tinha opção.

A gota caiu. As lágrimas dos deuses, ou água mesmo, caíram lavandobatendoescarrando na face do atingido. Nem perguntou seu nome. Nem perguntasse pois, talvez, nem lembrasse. Depois do passado, o abrigo o chamou, e agasalhou-lhe.
Não. Ninguém o chamava, dava de comer, ou sorria para o ativista. Depois do passado, nada importava, nem pro próprio conto deste em que até o nome foge à boca. Sem qualidades ou defeitos. E nem quisesse importar, nem mesmo a ele. Como saber quais eram?

O fato: O rio chamou-lhe pelo nome. Não houve resistência. O carro, difícil de ver, gritou sua melhor qualidade. Não hesitou. Na sacada, o chão abriu seus braços e deu-lhe a solução. E onde anda esta alma, cujo nome inanimado soa pelos carros, ruas e riachos?

sábado, 27 de agosto de 2011

A chave


Sobre a mesa estava a chave. Pegou. Saiu. Não voltou mais. Quebrou a line(ar)lidade cotidiana da vida monótona de família. Havia tempos não via amigos. Não havia amigos. Talvez tivesse, nem se lembrava mais.
O caso foi que, depois de descobrir as funções cerebrais, constatou que podia pensar. E se foi. Foi voar. Foi viver bailando em rubras nuvens de algodão. Ou talvez patinando sobre o véu envolvente do rio preferido. Não foi exagero não conter-se em pegar a chave. Pegou e fez-se feliz. Não é dependência o problema. É falta de eu. Foram buscar a felicidade boiando, ou caindo do céu?

A madeira, rio, sou eu.


O mar inspirou os grandes. O mar é grande. Não tenho mar. Não posso ser consolado pelo infinito, quando a angústia vier. Nada de infinidade nos poemas sem mar. Aquele vento seco, salgado e que parece ter a chave de Drummond, não passa por essas bandas. Banda menos doce? Não dependesse do mestre tupiniquim. Este aqui, logo ali. Mergulhado. O rio tem sido pra mim, mais que rio. O choro pode sair, mas longe porque aqui, rio. É doce. Deixa a (minha) vida doce. Não é endeusamento coisa nenhuma. É constatação. Agradecimento.
Antes, não sabia (ou acreditava ser isso grande bosta) como ver algo a mais em coisas inanimadas. O primeiro passo foi perceber que nada é inanimado. Tudo se move para o vento. E o vento movia o rio. O segundo passo não foi dado porque eu estava fixo, observando. Eu o olhava(e ainda olho), duvidoso. E o dia foi passando e se tornando um conto. O sol já estava iluminando a cara babada dos operários chineses. As pessoas (estavam de costas para o rio) iam embora. Eu o olhava(e ainda olho), duvidoso.
Percebi. (talvez tenha sido o vento, sussurrando no meu ouvido historietas e divagações). Eu sou o inanimado aqui. Preciso descobrir algo a mais em mim. O rio deve estar por baixo de suas águas esperando eu me mover, sussurrar. A madeira que passa sobre sua superfície ainda está mais perto de conhecer o rio. Ainda assim é, pra mim, o rio, o mar.

sábado, 23 de julho de 2011

Bala perdida


Enquanto a linha
entorta
e o sapo
o gato pula
,progressão,
o susto:
o gatilho atira e
tira a vida
de quem tem
paciência e
aceita
morrer sem
motivos.

Não é tão
difícil
,assim,
confiar
em mim.

Confinar
todos os
meus
paradigmas
em uma só
sessão no
psiquiatra.

sábado, 16 de julho de 2011

Luto


Refletindo,
percebi que
quero fazer
um curso
em que eu
possa mudar
o mundo.

Então
perguntei ao
tempo.

O que fazer?

E ele,
com um sorriso
irônico,
achando-se dono
do meu destino
vomitou:

Um curso de tiro.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Quando eu souber ser humano


Descrevo meus miolos discretos escrevo minhas visceras vivas e vou e sento nesse assento grudado ao vento e voo num voo sem acento desprendo a despesa para sempre na despensa presa.No alto como minha caça caço minha presa e não a dispenso.Sinto o fogo frio e escadante no meio do rio ofegante e penso como teçe a pobre aranha penso naquilo que arranha meu sentar tenso[cheio de inutilidade util]que dilate minha mente e que vire uma bruta área cheirosa de incenso numa ária sem qualquer senso livre e sem asas ao vento rumo a um grande destino nesse cosmo imenso.

domingo, 19 de junho de 2011

Domingue


Cuspa escarre
e
escorregue
na
bela aurora.

Domingue.

Domine as
suas horas
acorde
para a graça
da loucura.

Domingue.

Dormindo
seja dia
quando for
noite.

Não há
briga
interna.

Existe semana.
Mas pra que
semana
se emana tristeza
e ocupação?

Dia mesmo
é quando ele pode ser visto.
Dia é vivo quando se vive.

Domingue.

E quando o
Narciso dos
planetas
estiver
do outro
lado do seu
pensamento
e
aquela vermelhidão
dominar o trono,
como se o céu
fosse a fornalha
dos vivos,
virá segunda.
Virará feliz
empalhada.

Voce
domingando
e a luz
vagabunda
em segundo
plano.

sábado, 4 de junho de 2011

Choro e luto


Eis que surge a primeira
lua cheia do mês.
vem e semeia a
descendencia do breu
Radiante iluminando
o caminho de Orfeu.

Se a peça não foi vista
a boca calada e o pulso
impulsatelitincontrolável,
O entendido destino será
avulso, egoísta,
maládjetivável.

A tonicidade e o sujeito
oculto, revelam o sentimento
do porteiro do Hades.
depois do terror do cálice,
eu, de pé, depois de visto
a peça, a boca descolada
e o pulso pulsátil[aglutinação com
inutil],
só choro e luto.

domingo, 29 de maio de 2011

Dislexia verbal


Hoje é verdade,
e abrido e falado,
escasso e sofrido
e cobrido e errado.
Exato e soberbo
e verdade.

O verbo certo é
quando é mentido.
É quando vem de
saudade.

sábado, 28 de maio de 2011

Não existe futuro


Antes da morte todo mundo é vida
Antes da chuva todo mundo é seca
Antes do vento tudo é arrumado,
Antes do tornado todo santo reina.

Ante a sorte breve tudo é apostado
Antes o derrotado era rico.
Ante a maldição da labuta
ande, o trabalho espera.

Antes da palavra instante e gesto
Antes da guerra havia amor.
mesmo ante o amor, a guerra.
Agora, severa.

Antes do começo o fim reinava.
Adentre o buraco negro
diante do primeiro,
ante estátuas, se salgue
antes de olhar pra trás,
se salve. O ente espera.

Em mente a viril felicidade.
Antes, real.

sábado, 30 de abril de 2011

Tempo


Quantas Pessoas estão
aqui e agora?
Para os lá e depois
a demora.
Para os aqui e agora
a diáspora
devora todos os sóis.

Solenidade marcada
de dores e sensores.
e aqui e agora
e mascarada.

Os de lá e depois,
a escória,
a maioria suspeita
o surto já,
aqui e agora.

Lá e depois implora
alegoricamente
a implosão
da demora.

O primeiro não perde
a hora.
O Segundo desola.

Aqui, agora é lá e depois.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Félicité

eu
seu
meu
Deus.


Em cada verso um eu.
Cada dia menos ateu.
O estado de espirito
dentro desse plebeu,
é um sol e uma nuvem
sobre a montanha e
de tarde a chuva
para amenizar a rigidez
do cabo de guerra
que enrosca o pescoço
do que erra.

O insosso momento real
ofusca a beleza da viagem.
Mas perde para um sol
e uma nuvem
sobre a montanha.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Quem procura nem sempre encontra

Se eu não me engano
Me enganam.
Se eu me distraio
me destroem.
E se eu me movo
me comovem.
Se eu retenho
me retalham.
Se eu me despido
se despedem.
E se eu erro
"me erram".

Se eu digo, frescor
eles dizem, Frescura.
Se eu digo denuncia
eles indagam,

sepulcro!

E se eu imploro paciência
eles gritam, AGORA!

Não há mais essência
e beleza na aurora.
Isso não é
gramática.
Isso é
realidade.
E se eu declamo

Amor

eles reclamam.

Que falta de
humor.
que falta de
ambiguidade.

Ice, hot

Arthur: Raimundo...

Joice: Seria uma rima e
não uma solução.


Arthur: Apenas mais um vagabundo,
um irmão
.

Joice: Viva Bandeira
Drummond

Lord,King

torto. Arthur,


Arthur: Rei sempre é
Rei.Mesmo morto.

Mesmo urubu.


Joice: Arthur e Joice.
Ice, hot.


Arthur: Sublimação
então?


Joice: Ok.

O nosso jogo é perigoso, combina.
Nós somos fogo e gasolina.(Roberta Sá)

Mela

Além do mais
além de tudo
no além do surdo
e mudo, está
o grito louco
escarrado e
mal propagado.
Além-mar, vire
a esquerda.
Da esquerda
pra direita,
além é mela.

Verdades

Ouça a melodia da chuva,
ouvirá a a paz.
Sinta o vento que jorra,
sentirá a voz
que toca essa joça.
Pule do sofá de susto
Quando o rato vier atormentar,
vibrará a vida.
Depois se acalme
acordará no açoite.
Eu também não entendo
esses mistérios da meia-noite.

Cara bamba.

E quem sabe, Arthur?

Quem sabe tudo muda
quem sabe a cura chega
quem sabe ela se aveche
e volte antes do amanhecer.
Quem sabe quando voce morrer,
quem sabe vai dizer:Desculpa,
eu não pude responder.

E quem sabe, Arthur?

Quem sabe que não sabe?
Quem sabe que come vento?
Quem sabe que ali dentro,
voce que sabe,
mesmo com os olhos ardendo
um dia deixou de confessar,
todos vamos apodrecer.

E quem sabe ?

Quem sabe um dia,era uma vez,
essas desculpas
quem sabe sirvam pra algo, Arthur.
Quem sabe a culpa é sua.
Quem sabe o sol, o mar, a lua,
são bons companheiros,
como uma manada de sabichões.

Quem sabe o olhar penetrante,
aquele, violento e ofegante,
o tapa, o som opressivo,[eufemismo]
Quem sabe vira bosta.
Quem sabe a cura é o
humor, Arthur.


O que se sabe é que é vida, Arthur, é vida.


O pingo de chuva
no rosto parece lágrima.
é mágoa e choro.
é lágrima.

Senti[n]do

Cérebro para mão:
dois pontos.
Olho para mão:
Amor.
Boca para olho:
discreto horror.
Nariz para boca:
Cheiro não tem cor.
cérebro para boca:
pare de rir.
Boca para cérebro:
é que eu adoro
humor negro.

[risos]

Devolução

A escrita morreu
quando a felicidade
veio.
Sou seu, escrita.
Quando o raio
me partiu ao meio,
o outro, aquele desvairado,
ele fugiu. [Não sei pra que veio.]
Mas eu, escrita, eu fiquei.

Falei: volta.

Transpirando ironia

O negócio foi que foi bom.
Mas negócio mal é sair com dom.
Minha casa é que tem sede,
mas aquele rio que enche o saco,
que bate a porta até que seque,
seque o caramba, ele ama os barcos.
Ele perturba com aquela larva cristalina.
é que não passou fome ainda.

Mas que fome desgraçada!

Mais que a fome e a míngua,
são os peixes e pães que chovem na calçada.
Por essa desgraça, sair é abuso da língua.
Quando para e minha cidade sai sorrindo,
adoro roubar gritos e comida amassada
cantar parabéns e rasgar a boca de dentes
com lã e seda a boca dos doentes.

Já disse que lá em casa tem um poço?
Ah, mas a água é muito limpa.
Lá também tem terra e fruta
mas é fértil que dá desgosto.
Tem a fossa que eu adoro.
Ah, o esgoto...

Mas vai passar. Vai chegar agosto,
quando chover canivetes e eu me banhar,
Ah, que sonho utópico,
que doçe sangrento gosto.
nem quero imaginar...

Vai ser o auge da assim feliz cidade.

De um reacionário para o espelho de um reacionário

és todo um tolo
adequado.
Briga e rola no lodo.
Une seus ideais
adaptados.
Fica e canta um canto
gregorianizado.
Esquece o pensador
lascado.
Cospe e louva
o louco cosmo.
Habita entre um povo
selecionado.
compra e doa ao rico
mendigo.
Se molha com os olhos
assustados.
chora rindo fingindo
"Estou seco".
A crítica do vampiro
engolindo a seco.
Sua mente em sinapse
tropeça na cerca.
Vive morrendo afogado.

Ainda assim pensa que
vence um povo,pouco
de loucos,preparado.

Batom sabor-de-vômito

Nos dias de quinta,
a água dá sede
o sol sopra frio
a mágoa sobe o rio
e te rende rente a parede.

Nos dias de quinta,
quente é o gelo
o machado é o beijo
o sorriso é o desejo
e bem vindo é desespero.

Nos dias de quinta,
não consigo dormir
não costumo mentir
não consisto em sair
e a voz...
cogita explodir.

Mas antes que eu minta
o dia de quinta
amanhã é nada
o tempo não para.
A fada maldita
morreu afogada.
E lá estou eu
de mala arrumada
pronto pra mais
quintas-feiras,
Avistar belas beiras
andar trilhos velhos,
falar baboseira.

E o mais que se dane.

é noite e a lua mágica
faz dia com magia,
florescente e fria.

No meio da rua,
no ponto cego
sobre a pedra macia,
aqui estou eu
pensando num dia de quinta
que mais parecia sexta,
cheio de curva e rimas,
segredos e entrelinhas,
sem sol
sem lua
sem sal
sem açúcar
sem tudo
sem nada
nem insosso
nem salgado
dia simples
gosto amargo.

Mas sabia que passaria,
Ah meu Deus era tudo que eu queria.
Sem mais disfarces e risos de auto ironia.
Não costumo findar tardes com alto teor de melancolia.

Soneto ABBA BAAB ABC ABC imperfeito octa nona insano

A perfeição nobre almejada
E o sacramento derrotado
morreram pobres de braços dados
de tempissite bem-mal curada.

Tem que ser belo e glorificado
o escarro da diagnosticada.
é de água a cura acionada
e é de trigo o peixe clonado.

essa boba entranha do nada
nem me tira o tédio, ah coitado.
esse gosto amargo amado em vão.

Vil entediantenalizada
insana usura do fracasso
Mas morreu. Alguma objeção?

Sou neto da imperfeição.

Voos sem acento

Ve-de vida
ve-de morte
e sede custa
esse é de sorte.
Ode, horror,
pode poder
do conde
conceder?

Se de sistema
alimenta-se
da fome,
então,
que espere
o doido
de doideras
que vive,
com a lingua
que diz:
é V de vida,
e com a vista
que insiste,
ve-de, é vida.

Aviva e viva
a vida de ver
a via do alto.

por voos.