Primeiro a gente vive. Pouco primeiro. Depois a gente comenta a vida. Muito depois.







sábado, 3 de setembro de 2011

Rima podre


Só tem rima
quando a fome
reina
quando a mão
nos deixa
quando o palco
fecha
quando o barco
enche
quando o saco
estoura.

Só tem rima
quando o chato
beija
quanto mal esteja
manta impregnada
rima feia
mal propagada.
Aquilo que é humano
sem graça.
Aquela rima
frouxa
folgada
rima quando a vida
está solta
suja
desfigurada
sem aquele poste,
aquela escada.

E a mão ousa
levantar-se.
e a mão ousa
encher-se
de sangue.
E ela bate
no peito
do corpo
podre e soa
o enxofre
escarrando,
tentando amar:
"então o poema não precisa rimar."

O destino dos corvos


Carcará era ficha. Este comia o que nascia do buraco negro. Humano (possivelmente), ria de sua desgraça. A poesia que ousava sair era massacrada pelas mãos sujas daquele que sempre foi atingido. O grito do acaso, ou da sorte, ou dele mesmo, soava longe. A peregrinação dentro das entranhas universais, sinapses e vias curvas sangrentas era, provavelmente, cansativa e nostálgica. Gostava era de ficar sentado naquele banco de rio, olhando o pôr-do-sol, ou aurora, ou nada. E nem tinha opção.

A gota caiu. As lágrimas dos deuses, ou água mesmo, caíram lavandobatendoescarrando na face do atingido. Nem perguntou seu nome. Nem perguntasse pois, talvez, nem lembrasse. Depois do passado, o abrigo o chamou, e agasalhou-lhe.
Não. Ninguém o chamava, dava de comer, ou sorria para o ativista. Depois do passado, nada importava, nem pro próprio conto deste em que até o nome foge à boca. Sem qualidades ou defeitos. E nem quisesse importar, nem mesmo a ele. Como saber quais eram?

O fato: O rio chamou-lhe pelo nome. Não houve resistência. O carro, difícil de ver, gritou sua melhor qualidade. Não hesitou. Na sacada, o chão abriu seus braços e deu-lhe a solução. E onde anda esta alma, cujo nome inanimado soa pelos carros, ruas e riachos?