Primeiro a gente vive. Pouco primeiro. Depois a gente comenta a vida. Muito depois.







sábado, 3 de setembro de 2011

O destino dos corvos


Carcará era ficha. Este comia o que nascia do buraco negro. Humano (possivelmente), ria de sua desgraça. A poesia que ousava sair era massacrada pelas mãos sujas daquele que sempre foi atingido. O grito do acaso, ou da sorte, ou dele mesmo, soava longe. A peregrinação dentro das entranhas universais, sinapses e vias curvas sangrentas era, provavelmente, cansativa e nostálgica. Gostava era de ficar sentado naquele banco de rio, olhando o pôr-do-sol, ou aurora, ou nada. E nem tinha opção.

A gota caiu. As lágrimas dos deuses, ou água mesmo, caíram lavandobatendoescarrando na face do atingido. Nem perguntou seu nome. Nem perguntasse pois, talvez, nem lembrasse. Depois do passado, o abrigo o chamou, e agasalhou-lhe.
Não. Ninguém o chamava, dava de comer, ou sorria para o ativista. Depois do passado, nada importava, nem pro próprio conto deste em que até o nome foge à boca. Sem qualidades ou defeitos. E nem quisesse importar, nem mesmo a ele. Como saber quais eram?

O fato: O rio chamou-lhe pelo nome. Não houve resistência. O carro, difícil de ver, gritou sua melhor qualidade. Não hesitou. Na sacada, o chão abriu seus braços e deu-lhe a solução. E onde anda esta alma, cujo nome inanimado soa pelos carros, ruas e riachos?

sábado, 27 de agosto de 2011

A chave


Sobre a mesa estava a chave. Pegou. Saiu. Não voltou mais. Quebrou a line(ar)lidade cotidiana da vida monótona de família. Havia tempos não via amigos. Não havia amigos. Talvez tivesse, nem se lembrava mais.
O caso foi que, depois de descobrir as funções cerebrais, constatou que podia pensar. E se foi. Foi voar. Foi viver bailando em rubras nuvens de algodão. Ou talvez patinando sobre o véu envolvente do rio preferido. Não foi exagero não conter-se em pegar a chave. Pegou e fez-se feliz. Não é dependência o problema. É falta de eu. Foram buscar a felicidade boiando, ou caindo do céu?

A madeira, rio, sou eu.


O mar inspirou os grandes. O mar é grande. Não tenho mar. Não posso ser consolado pelo infinito, quando a angústia vier. Nada de infinidade nos poemas sem mar. Aquele vento seco, salgado e que parece ter a chave de Drummond, não passa por essas bandas. Banda menos doce? Não dependesse do mestre tupiniquim. Este aqui, logo ali. Mergulhado. O rio tem sido pra mim, mais que rio. O choro pode sair, mas longe porque aqui, rio. É doce. Deixa a (minha) vida doce. Não é endeusamento coisa nenhuma. É constatação. Agradecimento.
Antes, não sabia (ou acreditava ser isso grande bosta) como ver algo a mais em coisas inanimadas. O primeiro passo foi perceber que nada é inanimado. Tudo se move para o vento. E o vento movia o rio. O segundo passo não foi dado porque eu estava fixo, observando. Eu o olhava(e ainda olho), duvidoso. E o dia foi passando e se tornando um conto. O sol já estava iluminando a cara babada dos operários chineses. As pessoas (estavam de costas para o rio) iam embora. Eu o olhava(e ainda olho), duvidoso.
Percebi. (talvez tenha sido o vento, sussurrando no meu ouvido historietas e divagações). Eu sou o inanimado aqui. Preciso descobrir algo a mais em mim. O rio deve estar por baixo de suas águas esperando eu me mover, sussurrar. A madeira que passa sobre sua superfície ainda está mais perto de conhecer o rio. Ainda assim é, pra mim, o rio, o mar.

sábado, 23 de julho de 2011

Bala perdida


Enquanto a linha
entorta
e o sapo
o gato pula
,progressão,
o susto:
o gatilho atira e
tira a vida
de quem tem
paciência e
aceita
morrer sem
motivos.

Não é tão
difícil
,assim,
confiar
em mim.

Confinar
todos os
meus
paradigmas
em uma só
sessão no
psiquiatra.

sábado, 16 de julho de 2011

Luto


Refletindo,
percebi que
quero fazer
um curso
em que eu
possa mudar
o mundo.

Então
perguntei ao
tempo.

O que fazer?

E ele,
com um sorriso
irônico,
achando-se dono
do meu destino
vomitou:

Um curso de tiro.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Quando eu souber ser humano


Descrevo meus miolos discretos escrevo minhas visceras vivas e vou e sento nesse assento grudado ao vento e voo num voo sem acento desprendo a despesa para sempre na despensa presa.No alto como minha caça caço minha presa e não a dispenso.Sinto o fogo frio e escadante no meio do rio ofegante e penso como teçe a pobre aranha penso naquilo que arranha meu sentar tenso[cheio de inutilidade util]que dilate minha mente e que vire uma bruta área cheirosa de incenso numa ária sem qualquer senso livre e sem asas ao vento rumo a um grande destino nesse cosmo imenso.